História de fim-de-semana: Amanita sp.
2 participantes
Página 1 de 1
História de fim-de-semana: Amanita sp.
Neste fim-de-semana fiz a minha deslocação habitual a Sintra. A diferença relativamente à semana anterior foi abissal: o número de espécies observadas foi muito inferior e sendo também menor o número de exemplares de cada espécie. Por isso, já vislumbrava um fim-de-semana sem história. Mas, no dia seguinte, desloquei-me a Monsanto e pela primeira vez ali (das muitas que por lá já passei) deparei-me com um exemplar de Amanita, que não sei classificar, que descrevo e de anexo fotos a seguir.
Lebre
Descrição:
LOCALIZAÇÃO: Monsanto
HABITAT: zona de pinhal, predominantemente pinheiro manso. Próximo desta zona existe uma outra de sobral, com início a 20-30 m deste local.
CHAPÉU: 9 cm de diâmetro; plano; cinzento claro, margem mais clara e estriada (estrias pouco profundas <0,5cm); restos de véu brancos em grande parte do chapéu.
PÉ: 10 cm de comprimento (volva incluída) / 1,4 cm de diâmetro no ápice, alargando progressivamente para a base; cor branca, que ao toque escureceu um pouco; volva saciforme branca, sem anel; pé com um canelado junto ao ápice e escamoso na parte acima da volva; uma formação fusiforme na base (abaixo da volva).
HIMENÓFORO: com lâminas claras (branco a creme, podendo ser cinzento muito claro); inserção adnata, espaçamento apertado, mas não muito.
ESPORADA: branca
CHEIRO E SABOR: cheiro indistinto, sabor não provado.
Nota: Por mais cuidado que tivesse parte do saco da volva ficou logo na terra, uma vez que era muito frágil.
Fotografias:
Lebre
Descrição:
LOCALIZAÇÃO: Monsanto
HABITAT: zona de pinhal, predominantemente pinheiro manso. Próximo desta zona existe uma outra de sobral, com início a 20-30 m deste local.
CHAPÉU: 9 cm de diâmetro; plano; cinzento claro, margem mais clara e estriada (estrias pouco profundas <0,5cm); restos de véu brancos em grande parte do chapéu.
PÉ: 10 cm de comprimento (volva incluída) / 1,4 cm de diâmetro no ápice, alargando progressivamente para a base; cor branca, que ao toque escureceu um pouco; volva saciforme branca, sem anel; pé com um canelado junto ao ápice e escamoso na parte acima da volva; uma formação fusiforme na base (abaixo da volva).
HIMENÓFORO: com lâminas claras (branco a creme, podendo ser cinzento muito claro); inserção adnata, espaçamento apertado, mas não muito.
ESPORADA: branca
CHEIRO E SABOR: cheiro indistinto, sabor não provado.
Nota: Por mais cuidado que tivesse parte do saco da volva ficou logo na terra, uma vez que era muito frágil.
Fotografias:
Lebre- Carpóforo
- Número de Mensagens : 1208
Reputação : 9
Data de inscrição : 04/01/2009
Amanitopsis
É uma Amanita da sub-secção Vaginatinae, que é caracterizada pelo seguinte conjunto de caracteres:
- Margem estriada, mesmo nos exemplares jovens;
- Esporos não amilóides (existe uma correlação entre esta característica e a anterior: margem estriada = esporos não amilóides; margem não estriada = esporos amilóides, que é essencial para a divisão do género Amanita em dois sub-géneros, respectivamente Amanita e Lepidella);
- Estipe não tipicamente bolboso e véu universal mais ou menos membranoso, resultando numa volva membranosa ou sub-membranosa(podendo ser saciforme, eventualmente friável, ou seja, pode ser persistente ou desintegrar-se com maior ou menor facilidade) - o que caracteriza a secção Vaginatae;
- Ausência de anel amplo (o anel está colado em toda a sua extensão ao pé) - o que caracteriza, enfim, a sub-secção Vaginatinae.
Até aqui é simples; o problema é, dentro deste grupo, chegar à espécie...
À primeira vista, poderá tratar-se de uma espécie do complexo Amanita vaginata, pela cor acinzentada do chapéu. Porém, não é comum neste conjunto de espécies a presença no chapéu de grandes placas resultantes da fragmentação do véu universal, embora não exista um consenso relativamente a este caracter. Outra possibilidade seria Amanita mairei, que tem uma volva 'envaginada' (não tenho melhor tradução, mas basicamente é uma volva colada ao pé na sua base, mas que depois 'abre' na parte de cima, afastando-se do pé, com uma forma de tulipa) - o que aparenta ser o caso, apesar de me parecer que o exemplar (e a volva) já não está nas melhores condições... A volva, tendo ficado na terra, parece indicar alguma friabilidade (as volvas membranosas são mais consistentes e não se desfazem com tanta facilidade) e, aí, teríamos ainda que considerar a possibilidade de se tratar de uma espécie do grupo Amanita friabilis...
Como disse antes, este conjunto de espécies (antes colocadas no género, agora não reconhecido como tal, Amanitopsis) é muito complexo e as espécies que o compõem são difíceis de delimitar, havendo ainda alguma confusão em torno de algumas delas.
Em casa vou dar uma vista de olhos à monografia do Galli e pode ser que depois tenha mais informação para te dar.
- Margem estriada, mesmo nos exemplares jovens;
- Esporos não amilóides (existe uma correlação entre esta característica e a anterior: margem estriada = esporos não amilóides; margem não estriada = esporos amilóides, que é essencial para a divisão do género Amanita em dois sub-géneros, respectivamente Amanita e Lepidella);
- Estipe não tipicamente bolboso e véu universal mais ou menos membranoso, resultando numa volva membranosa ou sub-membranosa(podendo ser saciforme, eventualmente friável, ou seja, pode ser persistente ou desintegrar-se com maior ou menor facilidade) - o que caracteriza a secção Vaginatae;
- Ausência de anel amplo (o anel está colado em toda a sua extensão ao pé) - o que caracteriza, enfim, a sub-secção Vaginatinae.
Até aqui é simples; o problema é, dentro deste grupo, chegar à espécie...
À primeira vista, poderá tratar-se de uma espécie do complexo Amanita vaginata, pela cor acinzentada do chapéu. Porém, não é comum neste conjunto de espécies a presença no chapéu de grandes placas resultantes da fragmentação do véu universal, embora não exista um consenso relativamente a este caracter. Outra possibilidade seria Amanita mairei, que tem uma volva 'envaginada' (não tenho melhor tradução, mas basicamente é uma volva colada ao pé na sua base, mas que depois 'abre' na parte de cima, afastando-se do pé, com uma forma de tulipa) - o que aparenta ser o caso, apesar de me parecer que o exemplar (e a volva) já não está nas melhores condições... A volva, tendo ficado na terra, parece indicar alguma friabilidade (as volvas membranosas são mais consistentes e não se desfazem com tanta facilidade) e, aí, teríamos ainda que considerar a possibilidade de se tratar de uma espécie do grupo Amanita friabilis...
Como disse antes, este conjunto de espécies (antes colocadas no género, agora não reconhecido como tal, Amanitopsis) é muito complexo e as espécies que o compõem são difíceis de delimitar, havendo ainda alguma confusão em torno de algumas delas.
Em casa vou dar uma vista de olhos à monografia do Galli e pode ser que depois tenha mais informação para te dar.
Pedro Claro- Basidiocarpo
- Número de Mensagens : 1398
Idade : 50
Reputação : 10
Data de inscrição : 10/12/2007
Re: História de fim-de-semana: Amanita sp.
Caro Pedro,
Excelente exposição sobre as características da subsecção Vaginatinae o que, para um principiante como eu, foi muito útil. É raro alguém conseguir reunir toda essa informação de forma clara e concisa como o Pedro conseguiu. Os meus agradecimentos, por isso.
Como sabe eu já tinha andado a ver as características desta subsecção, quanto mais não fosse pelo tópico que antecedeu este numa semana ("História de um fim-de-semana: Volvariella surrecta"), pois aí fui confrontado com a possibilidade de ter colhido um exemplar deste tipo. Mas, propositadamente, não quis acrescentar nada, não fosse alguém supersticioso acusar-me de premonição.
Agora, em relação a este exemplar, eu já tinha concluído que a espécie A. mairei (que alguns consideram sinónimo de A. argentea, precisamente a hipótese do tópico da semana passada) estava fora de causa pois a volva desta espécie tem as características que o Pedro tão bem descreveu (consistência, forma de túlipa, etc.) e não tem placas resultantes da fragmentação do véu universal. Por outro lado, não vislumbrei nenhuma outra espécie da subsecção em causa que reunisse este conjunto de caracteres. Assim, se lhe for possível acrescentar algo à informação anterior será bem-vinda.
Lebre
Excelente exposição sobre as características da subsecção Vaginatinae o que, para um principiante como eu, foi muito útil. É raro alguém conseguir reunir toda essa informação de forma clara e concisa como o Pedro conseguiu. Os meus agradecimentos, por isso.
Como sabe eu já tinha andado a ver as características desta subsecção, quanto mais não fosse pelo tópico que antecedeu este numa semana ("História de um fim-de-semana: Volvariella surrecta"), pois aí fui confrontado com a possibilidade de ter colhido um exemplar deste tipo. Mas, propositadamente, não quis acrescentar nada, não fosse alguém supersticioso acusar-me de premonição.
Agora, em relação a este exemplar, eu já tinha concluído que a espécie A. mairei (que alguns consideram sinónimo de A. argentea, precisamente a hipótese do tópico da semana passada) estava fora de causa pois a volva desta espécie tem as características que o Pedro tão bem descreveu (consistência, forma de túlipa, etc.) e não tem placas resultantes da fragmentação do véu universal. Por outro lado, não vislumbrei nenhuma outra espécie da subsecção em causa que reunisse este conjunto de caracteres. Assim, se lhe for possível acrescentar algo à informação anterior será bem-vinda.
Lebre
Lebre- Carpóforo
- Número de Mensagens : 1208
Reputação : 9
Data de inscrição : 04/01/2009
Tópicos semelhantes
» História de fim-de-semana: Amanita sp. - Grande colecção
» História de fim-de-semana: Volvariella surrecta.
» História de fim-de semana: O cogumelo dos artistas
» História de fim-de-semana: Colecção de Amanitas cinzentas
» Saída exploratória à Serra de Grândola
» História de fim-de-semana: Volvariella surrecta.
» História de fim-de semana: O cogumelo dos artistas
» História de fim-de-semana: Colecção de Amanitas cinzentas
» Saída exploratória à Serra de Grândola
Página 1 de 1
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos
|
|