Estudos sobre Entoloma - E. brunneoserrulatum
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Estudos sobre Entoloma - E. brunneoserrulatum
O espécime aqui considerado já foi objecto de um tópico aqui no fórum - "Leptonia?" fazendo parte de uma grande colecção de exemplares.
Nessa altura ficou no ar a classificação, embora os comentários do Sabino e do *ento*loma* indicassem desde logo a direcção. Em particular, a sugestão do Sabino foi "mortífera", como pretendo demonstrar adiante. Os meus agradecimentos para eles, por tornarem possível esta identificação.
Nesses tempos eu dava os primeiros passos no género Entoloma e não estava ainda preparado para uma identificação cabal, por não dominar as técnicas de microscopia indispensáveis para tal. Agora penso ter chegado a altura de voltar ao tema e "arrumar a casa" no que respeita esta colecção, não porque seja um perito naquelas técnicas mas porque simplesmente me sinto um pouco mais à vontade com elas, embora ainda com muitas limitações.
Da colecção de exemplares elegi um (o nº7 na notação indicada numa das fotografias do tópico acima citado) por ser um dos poucos que estava em bom estado e foi com esse que obtive todos os dados que dou neste tópico. Reuni num quadro algumas fotografias deste exemplar:
No site de M. Noordeloos a secção Cyanula do subgénero Leptonia tem como carácter marcante a ocorrência de grânulos brilhantes quer no chapéu quer na lâmina. Esta secção é dividida em estirpes, sendo a primeira aí citada a Estirpe Serrulatum, aquela em que a aresta da lâmina é colorida de azul ou cor escura (até preto) contrastando fortemente com faces da lâmina, o que parece ser o caso do exemplar considerado. São aí citadas como pertencentes a esta estirpe as seguintes espécies:
E. serrulatum (Fr.: Fr.) Hesler;
E. caesiocinctum (Kühner) Noordel.;
E. querquedula (Romagn.) Noordel.;
E. carneogriseum (Berk. & Br.) Noordel.; E. linkii (Fr.: Fr.) Noordel.;
E. callirhodon A.Hauskn. & Noordel.
às quais se pode acrescentar mais uma, de acordo com discussão do tópico anterior:
E. brunneoserrulatum Eyssart. & Noordel.
Os dados a seguir referidos para estas espécies foram obtidos através da consulta das respectivas descrições no site "mycobank" usando os dados das descrições de M. Noordeloos, a maior parte incluída nos volumes 5 e Suplemento da colecção Fungi Europaei, com o título "Entoloma s.l.". Algumas destas espécies, como é o caso de E.brunneoserrulatum, foram "descobertas" (i.e. descritas pela primeira vez) já no presente século.
Uma característica comum às espécies citadas, e que distingue a estirpe, é o facto de a aresta da lâmina ser colorida o que se traduz microscopicamente por a aresta ser estéril, havendo uma zona terminal da aresta formada por hifas cilíndricas ou infladas com zonas densas de elementos terminais inflados, os "queilocistidios" (ou "falsos queilocistidios"). Esta descrição é dada para a espécie tipo - E. serrulatum - e nas outras é citada como sendo do "tipo serrulatum". Citando da descrição de E. serrulatum:
"Lamella edge sterile, made up of a sterile strand of cylindrical to inflated hyphae along the edge of the lamellae, with dense clusters of inflated terminal elements 'cheilocystidia' ".
Analisemos então este carácter no exemplar citado:
Constata-se efectivamente a existência de longas hifas cilíndricas com terminação inflada que podem exibir formas diversas, sendo pigmentadas com uma coloração castanha. Esta é uma das características de E. brunneoserrulatum, nas outras espécies a pigmentação é azul ou a sua cor não é referida. Foram observados valores de 15-20 µm para a largura das células terminais.
Duas das propriedades mais marcantes de E. brunneoserrulatum são a existência de granulação brilhante em abundância e a presença de hifas vasculares (ou lactíferas) dispersas. No exemplar em análise qualquer destas está presente em todos os tecidos analisados. No caso da lâmina isso é bem patente nas fotografias do quadro seguinte:
Em todas as espécies da estirpe a pileopelis é uma derme com transições para tricoderme, sobretudo no centro, com elementos terminais inflados cuja dimensão pode variar, desde 10-25 µm de largura em E. serrulatum até 20-35 µm em E. brunneoserrulatum, podendo alcançar 40 µm em E. carneogriseum. Em todos elas a pigmentação é azul, com excepção de E.brunneoserrulatum, onde é castanha, e de E. callirhodon, onde é rosa/lilás. No exemplar em análise observei o seguinte:
Abundante pigmentação intracelular castanha, elementos terminais inflados com valores para a
largura dos elementos clavados de 15-45 µm;
Abundante granulação brilhante e existência de hifas vasculares.
Também a estiptipelis, constituída por hifas paralelas com algumas ramificações e terminações infladas apresenta pigmentação intracelular castanha, embora mais ténue do que na pileopelis, granulação brilhante e hifas vasculares, como se pode observar no quadro seguinte:
Todas as espécies da estirpe Serrulatum têm esporos de dimensões semelhantes, poligonais com 5-7 faces, grandes para esta secção. Neste caso, obtive os seguintes valores:
(9.4) 10.1 - 12 (12.2) x (6.9) 7.2 - 8.4 (9) µm
Q = (1.1) 1.3 - 1.5 (1.6) ; N = 30
Me = 10.8 x 7.9 µm ; Qe = 1.4,
que são muito semelhantes aos que indiquei no tópico original.
Ainda uma menção para os basídios: Fiquei com a sensação de que neste exemplar poderiam co-existir basídios bi- e tetra-espóricos. A falta de detalhe do microscópio não me permitiu desfazer a dúvida. Além disso, para a estrutura dos basídios não é uniforme. Alguns são curtos e arredondados na parte inferior, em contraste com os “normais”. Deixo-vos algumas fotografias ilustrativas:
Para concluir, por tudo o que atrás ficou dito e ilustrado, penso que este exemplar, e por analogia todos os da mesma colecção, pertence à espécie Entoloma brunneoserrulatum.
Nessa altura ficou no ar a classificação, embora os comentários do Sabino e do *ento*loma* indicassem desde logo a direcção. Em particular, a sugestão do Sabino foi "mortífera", como pretendo demonstrar adiante. Os meus agradecimentos para eles, por tornarem possível esta identificação.
Nesses tempos eu dava os primeiros passos no género Entoloma e não estava ainda preparado para uma identificação cabal, por não dominar as técnicas de microscopia indispensáveis para tal. Agora penso ter chegado a altura de voltar ao tema e "arrumar a casa" no que respeita esta colecção, não porque seja um perito naquelas técnicas mas porque simplesmente me sinto um pouco mais à vontade com elas, embora ainda com muitas limitações.
Da colecção de exemplares elegi um (o nº7 na notação indicada numa das fotografias do tópico acima citado) por ser um dos poucos que estava em bom estado e foi com esse que obtive todos os dados que dou neste tópico. Reuni num quadro algumas fotografias deste exemplar:
No site de M. Noordeloos a secção Cyanula do subgénero Leptonia tem como carácter marcante a ocorrência de grânulos brilhantes quer no chapéu quer na lâmina. Esta secção é dividida em estirpes, sendo a primeira aí citada a Estirpe Serrulatum, aquela em que a aresta da lâmina é colorida de azul ou cor escura (até preto) contrastando fortemente com faces da lâmina, o que parece ser o caso do exemplar considerado. São aí citadas como pertencentes a esta estirpe as seguintes espécies:
E. serrulatum (Fr.: Fr.) Hesler;
E. caesiocinctum (Kühner) Noordel.;
E. querquedula (Romagn.) Noordel.;
E. carneogriseum (Berk. & Br.) Noordel.; E. linkii (Fr.: Fr.) Noordel.;
E. callirhodon A.Hauskn. & Noordel.
às quais se pode acrescentar mais uma, de acordo com discussão do tópico anterior:
E. brunneoserrulatum Eyssart. & Noordel.
Os dados a seguir referidos para estas espécies foram obtidos através da consulta das respectivas descrições no site "mycobank" usando os dados das descrições de M. Noordeloos, a maior parte incluída nos volumes 5 e Suplemento da colecção Fungi Europaei, com o título "Entoloma s.l.". Algumas destas espécies, como é o caso de E.brunneoserrulatum, foram "descobertas" (i.e. descritas pela primeira vez) já no presente século.
Uma característica comum às espécies citadas, e que distingue a estirpe, é o facto de a aresta da lâmina ser colorida o que se traduz microscopicamente por a aresta ser estéril, havendo uma zona terminal da aresta formada por hifas cilíndricas ou infladas com zonas densas de elementos terminais inflados, os "queilocistidios" (ou "falsos queilocistidios"). Esta descrição é dada para a espécie tipo - E. serrulatum - e nas outras é citada como sendo do "tipo serrulatum". Citando da descrição de E. serrulatum:
"Lamella edge sterile, made up of a sterile strand of cylindrical to inflated hyphae along the edge of the lamellae, with dense clusters of inflated terminal elements 'cheilocystidia' ".
Analisemos então este carácter no exemplar citado:
Constata-se efectivamente a existência de longas hifas cilíndricas com terminação inflada que podem exibir formas diversas, sendo pigmentadas com uma coloração castanha. Esta é uma das características de E. brunneoserrulatum, nas outras espécies a pigmentação é azul ou a sua cor não é referida. Foram observados valores de 15-20 µm para a largura das células terminais.
Duas das propriedades mais marcantes de E. brunneoserrulatum são a existência de granulação brilhante em abundância e a presença de hifas vasculares (ou lactíferas) dispersas. No exemplar em análise qualquer destas está presente em todos os tecidos analisados. No caso da lâmina isso é bem patente nas fotografias do quadro seguinte:
Em todas as espécies da estirpe a pileopelis é uma derme com transições para tricoderme, sobretudo no centro, com elementos terminais inflados cuja dimensão pode variar, desde 10-25 µm de largura em E. serrulatum até 20-35 µm em E. brunneoserrulatum, podendo alcançar 40 µm em E. carneogriseum. Em todos elas a pigmentação é azul, com excepção de E.brunneoserrulatum, onde é castanha, e de E. callirhodon, onde é rosa/lilás. No exemplar em análise observei o seguinte:
Abundante pigmentação intracelular castanha, elementos terminais inflados com valores para a
largura dos elementos clavados de 15-45 µm;
Abundante granulação brilhante e existência de hifas vasculares.
Também a estiptipelis, constituída por hifas paralelas com algumas ramificações e terminações infladas apresenta pigmentação intracelular castanha, embora mais ténue do que na pileopelis, granulação brilhante e hifas vasculares, como se pode observar no quadro seguinte:
Todas as espécies da estirpe Serrulatum têm esporos de dimensões semelhantes, poligonais com 5-7 faces, grandes para esta secção. Neste caso, obtive os seguintes valores:
(9.4) 10.1 - 12 (12.2) x (6.9) 7.2 - 8.4 (9) µm
Q = (1.1) 1.3 - 1.5 (1.6) ; N = 30
Me = 10.8 x 7.9 µm ; Qe = 1.4,
que são muito semelhantes aos que indiquei no tópico original.
Ainda uma menção para os basídios: Fiquei com a sensação de que neste exemplar poderiam co-existir basídios bi- e tetra-espóricos. A falta de detalhe do microscópio não me permitiu desfazer a dúvida. Além disso, para a estrutura dos basídios não é uniforme. Alguns são curtos e arredondados na parte inferior, em contraste com os “normais”. Deixo-vos algumas fotografias ilustrativas:
Para concluir, por tudo o que atrás ficou dito e ilustrado, penso que este exemplar, e por analogia todos os da mesma colecção, pertence à espécie Entoloma brunneoserrulatum.
Lebre- Carpóforo
- Número de Mensagens : 1208
Reputação : 9
Data de inscrição : 04/01/2009
Re: Estudos sobre Entoloma - E. brunneoserrulatum
Embora não possa dizer grande coisa acerca da tua interessante análise, li toda a história e achei brilhante.
Zec Tarius
Zec Tarius
ZecTarius- Carpóforo
- Número de Mensagens : 231
Fungónimo : Lactarionomano
Reputação : 1
Data de inscrição : 20/10/2008
Re: Estudos sobre Entoloma - E. brunneoserrulatum
Obrigado pelo apoio, ZecTarius.
Mais uma vez o que importa referir é a grande diversidade de espécies, neste caso de Entoloma mas também de muitos outros géneros, que ocorre neste extraordinário Parque de Monsanto.
Um abraço,
Lebre
Mais uma vez o que importa referir é a grande diversidade de espécies, neste caso de Entoloma mas também de muitos outros géneros, que ocorre neste extraordinário Parque de Monsanto.
Um abraço,
Lebre
Lebre- Carpóforo
- Número de Mensagens : 1208
Reputação : 9
Data de inscrição : 04/01/2009
Re: Estudos sobre Entoloma - E. brunneoserrulatum
Buen trabajo, Lebre
Sabino- Primordia
- Número de Mensagens : 142
Fungónimo : Geoglossum
Reputação : 1
Data de inscrição : 23/11/2009
Re: Estudos sobre Entoloma - E. brunneoserrulatum
Gracias, Sabino!
Um abraço,
Lebre
Um abraço,
Lebre
Lebre- Carpóforo
- Número de Mensagens : 1208
Reputação : 9
Data de inscrição : 04/01/2009
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