Cortinarius spp. e Hebeloma sp.

Continuo a apresentar algum do material colhido na zona de Sintra no feriado da semana passada.

HABITAT: pinhal, perto de um lago onde havia maior variedade de vegetação, incluindo outras árvores, por exemplo sobreiros.
CHAPÉU: 12 cm de diâmetro, creme de cor base e castanho/avermelhado no disco, cutícula separável extremamente viscosa (ver foto), carne branca compacta (ficou manchada nas pontas); muito flexuoso.
PÉ: 10 cm de comprimento / 4 cm de diâmetro no ápice, ligeiramente mais estreito ao centro e bolboso na base; branco de base com tons acastanhados ao centro e na base; fibroso; carne compacta excepto na zona perto do chapéu onde era cavernoso, mancha cerosa na zona central da base.
HIMENÓFORO: com lâminas; cor castanha clara (mel), espaçamento subdistante.
ESPORADA: castanho claro.
CHEIRO E SABOR: Indistintos.

Vi recentemente no tópico do fórum intitulado “Cortinarius cf. stillatitius” um cogumelo cuja robustez, morfologia e cores base eram algo parecidas à do exemplar que agora apresento. Características comuns além destas são a extrema viscosidade do chapéu, que tinha uma grossa camada de gel (que foi secando ao longo do tempo, mas mantendo as cores originais). Como características diferentes temos: no meu exemplar o pé não é viscoso, não apresenta qualquer cor violeta e não é afilado na base, sendo antes globoso; as lâminas são mais escuras e a margem do chapéu é mais irregular no meu exemplar.
Vi também nesse tópico, uma chave disponível na página que o Sabino ali indicou. Essa chave parece apontar para Cortinarius subpurpurascens.
No entanto, antes tinha visto algumas descrições do género Hebeloma, que me levaram a encarar também essa possibilidade de classificação.
Aguardo os comentários de outros membros do fórum, pois não tenho qualquer certeza.
Só mais tarde me apercebi de que tinha cometido um lapso, pois dispondo de dois exemplares escolhi para efectuar o registo aquele de que não dispunha de fotografias no terrreno. Assim, depois das fotos do exemplar observado, anexo também fotos colhidas in loco de outro exemplar mais jovem.
Lebre

Não serão duas espécies diferentes? A mim parece-me que o exemplar de lâminas mais escuras pertencerá género Cortinarius e a segunda espécie, com lâminas cor de café com leite, ao género Hebeloma. Na minha perspectiva, as 3 últimas fotos ilustram claramente um Hebeloma (partindo do princípio, como parece, que a cor da esporada será igual à cor das lâminas - café com leite). Uma esporada tiraria dúvidas, pelo menos em relação ao género.

Ambos os géneros são extremamente complicados e por isso, sem mais dados, não adianto hipóteses no que diz respeito às espécies. Se a primeira é um Cortinarius, a cor inicial das lâminas (nos exemplares muito jovens) poderá ser um caracter essencial para a identificação da espécie e, no segundo caso, tratando-se de um Hebeloma, o odor poderia dar pistas importantes para a sua identificação.

Caro Pedro,
Confesso que fiquei "impressionado" com os seus comentários pelo seguinte. Sempre os tratei como sendo da mesma espécie, pois foram os únicos cogumelos que encontrei de porte robusto na minha longa caminhada pelo pinhal e distavam poucos metros um do outro. Pensei até que a diferença de cor das lâminas e forma do chapéu fosse devida ao diferente estado de maturação de cada um deles. É claro que isso não é razão suficiente e, portanto, as suas questões são pertinentes. Infelizmente, tendo recolhido os dois só analisei em detalhe um deles e passado uns dias desfiz-me do material. Sendo assim não tenho mais dados a acrescentar aos que já mencionei.
Os meus agradecimentos,
Lebre

Opino como Pedro.
El primero podría ser Cortinarius mucosus
http://luirig.altervista.org/naturaitaliana/viewpics.php?title=Cortinarius+mucosus
El segundo Hebeloma sp. (sinapizans, crustuliniforme, .....)

Obrigado, Sabino.
Mea culpa, de novo, ao tomar como iguais dois cogumelos distintos.
Lebre

Podes ver neste link um tópico sobre Cortinarius mucosus, que o Sabino referiu: Cortinarius mucosus. Como estiveste com os exemplares na mão, talvez possas comparar com as fotografias e com a descrição que fiz, embora, se como referes, o pé não é viscoso, não deverá tratar-se desta espécie, que pertence ao sub-género Myxacium, cujas espécies se caracterizam pelo chapéu e pelo pé coberto por uma substância víscida. Se apenas o chapéu apresenta essa cobertura e o pé é seco, estaremos a falar de uma espécie do sub-género Phlegmacium.

Acho que vou precisar de algum tempo para estudar as propostas do Sabino e do Pedro. Voltarei a este assunto logo que tiver opinião formada. Acho que o facto de ter duas espécie diferentes veio baralhar tudo.
Lebre

Depois de ter voltado ao local e "quase desesperar" por encontrar novos exemplares, eis que vislumbrei, por debaixo da vegetação, um grupo de cinco. Tratam-se (aparentemente) de exemplares da mesma espécie do designado por Exemplar 1 deste tópico, embora não tão corpulentos. Anexos fotografias recolhidas no local (infelizmente não tão boas quanto seria desejável) e de dois deles (a que chamarei Ex. 3 e 4), os que colhi, já em casa.
Tal como os outros que deram origem ao tópico, o chapéu estava coberto com um visco, embora menos abundante que o observado nos originais, a cor geral do chapéu era mais clara que a do Exemplar 1. Não sendo o pé viscoso, penso que não se tratará da espécie C. mucosus, proposta pelo Sabino e ilustrada pelo Pedro Claro no tópico “Cogumelos de Fevereiro - Parte 2”, devendo antes tratar-se de uma espécie do sub-género Phlegmacium, como aliás o próprio Pedro sugeriu.
Depois de fazer umas pesquisas na Internet fui parar a um site de origem dinamarquesa que se intitula precisamente "The Phlegmacium Website" acessível em
http://www.cortinarius.com/index.html
Este site tem fotografias de mais de 100 espécies diferentes, mas parece-me mais dedicado ao estudo das espécies do norte da Europa. Das imagens que vi, e foram muitas, o mais parecido com os exemplares agora colhidos que vi foi o da espécie C. coalescens, embora seja referido que se trata de uma espécie observada em florestas de castanheiros e de faias (ver a parte do habitat na descrição original deste tópico).
Como nota final desta mensagem queria dar conta de que a cerca de 500 metros do local destas observações colhi um exemplar, o único visível (embora eu tenha procurado outros) de uma outra espécie de Cortinarius que me parece ser interessante pelas suas características e de que tratarei num futuro tópico.
Lebre

Fotos in loco:




Exemplar 3:





Exemplar 4:

A umas centenas de metros do sítio onde recolhi o cortinário que deu origem a este tópico voltei a encontrar novos exemplares. Desta vez consegui visualizar a famíla toda, pois encontrei um exemplar tão robusto quanto o original e exemplares mais jovens e outros mais maduros. Anexo, pois, um conjunto algo extenso de fotografias dessas observações. Estive a comparar a esporada com a do original e o tom de castanho coincide.
Lebre

Mais um para baralhar ainda mais este tópico. Fico-me pela descrição, dizendo apenas que este exemplar foi colhido no mesmo local em que os exemplares iniciais deste tópico.
LOCALIZAÇÃO: Sintra.
HABITAT: pinhal, perto de um lago onde há maior variedade de vegetação, incluindo outras árvores, por exemplo sobreiros e arbustos, e.g. medronheiros.
CHAPÉU: 7 a 8 cm de diâmetro (dependendo da direcção), creme; cutícula separável muito viscosa, carne branca compacta; margem enrolada.
PÉ: 6 cm de comprimento / 1,8 cm de diâmetro com um bolbo enorme (5 cm de diâmetro) na base; creme, sendo que a parte superior do bolbo e zona adjacente apresenta tons de violeta claro; fibroso sendo também fibrosa a carne; ao corte manchas violeta na parte superior do bolbo.
HIMENÓFORO: com lâminas; cor castanha clara (mel claro);inserção adnexa a livre, espaçamento sub-distante, lâminas com diferentes comprimentos.
ESPORADA: castanho claro.
CHEIRO E SABOR: cheiro a produtos da terra, sabor ligeiramente amargo ao fim de algum tempo.

Anexo um conjunto de fotografias.
Lebre

Sinceramente, parece-me que tens colocado imagens de algumas espécies diferentes.

Esta última espécie (31 de Dez) apresenta um estipe com um bolbo marginado e com tons violáceos ao corte, pelo menos junto ao exterior.

A espécie anterior (28 de Dez) tem um bolbo menos pronunciado e não marginado e, aparentemente, sem tons violáceos. Aparenta ser a mesma espécie do tópico de 22 de Dez, mas definitivamente é uma espécie diferente da que documentas no tópico de 31 de Dez.

Em qualquer dos casos, os estipes bolbosos não são consistentes com o sub-género Myxacium e, consequentemente, com Cortinarius mucosus, nem a ausência de muco no estipe. Da mesma forma, as espécies que apresentas nos tópicos de 22/28 e 31 de Dezembro também parecem ser diferentes do Cortinarius do tópico original! Eu diria, portanto, que serão 3 espécies diferentes do género Cortinarius e ainda mais uma espécie que, em princípio, pertencerá ao género Hebeloma (no tópico original).

Nomes para as espécies é que é mais difícil. No género Cortinarius é importante verificar a cor das lâminas nos exemplares jovens e, muitas vezes, a utilização de reagentes é fundamental.

Caro Pedro,
Obrigado pelos esclarecimentos e por todo esse trabalho de comparar as fotografias dos diversos exemplares. Mas peço também alguma compreensão da sua parte, uma vez que o meu objectivo não era "confundir" o tópico mas, ao apresentar este último exemplar, por se tratar de um mais jovem que os originais e ter sido colhido no mesmo local (i.e. numa área de 30-40 m^2), poderia acontecer que ele fosse de alguma daquelas espécies e que eu (por ser inexperiente) não soubesse distinguir. Acresce que o que já li acerca dos tons violetas, presentes nalgumas espécies de Cortinários, estes podem desaparecer na maturidade.
Quanto à utilização de reagentes não sei como os obter e utilizar, mas vou ter de aprender (ver a minha mensagem de hoje no tópico "Vermelhinho e laranjinha").
Lebre

Tens razão em relação aos tons, mas o bolbo marginado é uma característica permanente e de extrema importância neste género.

Lamento se insinuei que estavas a 'baralhar' o tópico, pois não era esse o meu objectivo. Estava apenas a constatar que, pela observação das fotos, parecem 3 espécies diferentes, embora numa primeira análise possa parecer que pertencem à mesma espécie.

Devagar se vai ao longe. Para quem começou há tão pouco tempo, já evoluíste de forma considerável. Espero que não fiques por aqui.