Boletus reticulatus talvez?

No mesmo dia que encontrei a Tremella mesenterica deparei-me com este lindo exemplar de Boletus, precisamente no mesmo local onde uma semana antes tinha encontrado o Amanita muscaria e o Amanita phalloides, portanto, debaixo da mesma árvore, um bidoeiro, como aliás podem ver na fotografia. Dos Amanitas que fotografei já nem vê-los, tive pena, mas é a vida, a vida dos carpóforos é muito reduzida suponho. Mas vamos lá ao que interessa. Depois de pesquisar no meu guia e de ver algumas imagens na internet achei que esta espécie talvez seja Boletus reticulatus, o que acham? Primeiro ainda pensei que fosse o edulis mas vendo bem as coisas não, os tubos deveriam ser amarelados e o pé deveria ser mais branco o que não se verifica. Bom, fico à espera da vossa opinião. Obrigado

É uma espécie do género Leccinum. O pé pontilhado, o perfil mais elegante (menos bojudo, como no género Boletus) e os poros brancos apontam para esse género. Para identificar a espécie seriam necessários mais dados, nomeadamente eventuais mudanças de cor da carne ao corte.

As coisas que tu me ensinas. Se alguma vez imaginei que não fosse o género Boletus!

Muito obrigado. E obrigado por explicares porque é que não é um Boletus, assim já aprendo. Obrigado

Em relação ao corte do exemplar, para levantar mais dados, desta vez optei por não o fazer, aliás, nunca faço, a não ser que no local existam vários exemplares da mesma espécie o que não se verificava nesta situação. Quero muito aprender, claro, mas com o menor impacto possível no mundo natural. Já foi muito bom ter chegado ao género. Tudo pela preservação das espécies

Essa é uma discussão antiga (mas que foi reavivada recentemente), mas parece-me importante referir aqui o seguinte:

- A recolha e análise de alguns exemplares é, muitas vezes, FUNDAMENTAL para uma correcta identificação, mesmo ao nível genérico. Não há volta a dar: fotografias de exemplares tal qual se encontram na natureza são, frequentemente, insuficientes para uma correcta identificação e é necessário obter dados só acessíveis recolhendo um ou dois exemplares. Se queres evoluir, vais ter que começar a proceder a essa recolha.

- A recolha cuidadosa dos exemplares, ainda que profunda e completa, não danifica o micélio. Há, inclusivamente, teorias que apontam no sentido de existirem mais ocorrências quando o micélio é perturbado (mas não destruído, claro). Uma coisa é recolher os cogumelos com cuidado, outra, completamente diferente, é revolver todo o solo em redor e destruir completamente o micélio. Pensa nas árvores de fruto: para recolheres os frutos não necessitas de partir os ramos ou braças - se colheres cuidadosamente, a árvore continuará a frutificar sem qualquer problema. A analogia é aplicável aqui.

- Evidentemente, há que existir um pouco de bom senso. Por isso não se devem recolher: exemplares velhos (inúteis para a identificação), exemplares demasiado jovens (para consumo não se devem mesmo recolher; para identificação por vezes é necessário recolher um ou dois), exemplares únicos, espécies protegidas ou raras (em Portugal não há dados, tanto quanto eu saiba), todos os exemplares da mesma espécie num mesmo local, demasiadas espécies (para análise em casa deve recolher-se apenas uma quantidade razoável de espécies, nunca mais material do que aquele que vai ser possível analisar - mais vale fazer duas ou três boas colheitas e obter uma boa quantidade de dados sobre essas 2 ou 3 espécies do que recolher 20 e mandar 15 para o lixo sem serem trabalhadas), perturbar o menos possível o local da recolha (inclui destruir plantas, revirar o solo, etc)...

O ideal (perturbação zero) não permite uma conveniente análise científica; mas essa análise científica e válida é possível sem pôr em causa a ecologia, fazendo uma perturbação mínima - irrelevante, mesmo - do local. Parece-me que é muito mais perturbador ver lixo espalhado, passeios de moto-quatro nas dunas ou simplesmente, ter um grupo de pessoas a caminhar de forma descuidada por montes e vales, pisando e arrancando coisas ou fazendo barulho... Portanto, o respeito pela natureza é muito bonito, mas não sejamos fundamentalistas!

Posto isto, concordo contigo Pedro, não?! O que eu disse está de acordo contigo lol.

Repara, um dos pontos que referiste é que não se devem recolher exemplares únicos. Foi precisamente essa a única razão pela qual eu não abri o cogumelo ao meio para fotografar a carne. Até porque o faço sempre não é? Costumo publicar sempre uma fotografia de um corte longitudinal nos meus posts. Só não o faço quando é um exemplar isolado. Eu até expliquei isso no texto introdutório em cima, se leres com mais cuidado. Mas pronto, até fizeste bem em esclarecer isso para outras pessoas que estejam em dúvida possam esclarecer-se

'Não dever', não significa 'não poder'. Neste caso, apesar de ser um exemplar único, a única forma de chegar a uma identificação mais concreta seria colhê-lo e proceder a um corte longitudinal. Não critico a tua opção, obviamente, principalmente porque, no estádio de conhecimentos em que te encontras, não poderias saber que a recolha seria necessária (ou melhor, que as fotos não seriam suficientes) para uma identificação mais precisa, mas eu teria colhido o exemplar se pretendesse mesmo confirmar o género e chegar (eventualmente) à espécie. Até porque se trata de um exemplar maduro e, consequentemente, já cumpriu a sua missão de disseminar esporos. Nenhum mal viria ao mundo nesta situação particular.

Portanto, não estamos exactamente a dizer a mesma coisa. Neste caso concreto, teriamos tido formas diferentes de actuar...

Eu também recolheria o cogumelo, mesmo sendo um exemplar único, se estivesse a fazer algum trabalho de investigação, se houvesse necessidade disso, sem dúvida. Como não é o caso e era exemplar único perfiro agir assim.

Contudo, tens razão num ponto, o exemplar é mais que maduro e neste momento já cumpriu a sua função. Amanhã devo então voltar ao parque da cidade e vou ver se recolho fotografias de um corte longitudinal