Adivinha!

Qual é coisa qual é ela,
Que é redonda e branca por fora,
Que é verde por dentro,
Que salta como uma bola,
E que, além disso, ainda suspira?

Se tem dificuldade com as cores, não gosta de futebol ou detesta suspiros, a questão pode ser reformulada da seguinte maneira:

Qual é coisa qual é ela,
Que toda ela é olhos,
Que tem pupila gelatinosa,
Que tem íris estrelada,
E que tem um globo de borracha?

Veja a descrição seguinte e pode ser que me possa ajudar a responder.

LOCALIZAÇÃO: Monsanto, Lisboa
HABITAT: Mata densa com árvores de várias espécies e arbustos, alguns de grande dimensão. Crescia enterrada no chão.
MORFOLOGIA: O fungo em causa consiste numa bola redonda, media 4 cm de diâmetro era completamente branca e estava ligada à terra por uma espécie de cordão. Mais tarde e no mesmo sítio vislumbrei outra com cerca de 6 cm diâmetro, mas que não colhi (3ª foto abaixo). Já em casa, ao limpá-la no lava-loiça, deixei-a cair e verifiquei que saltava como uma bola de borracha. Decidi abrir. Fiz um corte longitudinal, relativamente à zona de inserção do cordão. No interior era visível um tecido gelatinoso, com alguns (~5mm) de espessura junto à película exterior (exoperídio) e uma zona em anel (gleba?) de cor verde (seco). A zona interior, em forma de estrela era branca com um centro (2-3mm) de tecido translúcido e gelatinoso tal como a zona exterior. Anexo fotografias.

Fiz uma pesquisa na tentativa de identificar este fungo:
1) O que encontrei no endereço
http://www.mykoweb.com/CAF/species/Vascellum_pratense.html
foi a descrição de uma espécie do género Lycoperdon, Vascellum pratense, cuja morfologia, no meu entender, se assemelha bastante à do meu exemplar.
No entanto, nesta página, relativamente ao habitat, aponta-se para prados e zonas relvadas. Ora, o habitat do exemplar que eu colhi não corresponde a este quadro. Além disso, o exterior do corpo esférico não apresenta espinhos ou qualquer excrescência, podendo até ser descrita como lisa (ver fotos). Será que há alguma outra espécie com características idênticas?
2) também no livro “Cogumelos” de E. Laurence e S. Harniess (tradução em português da Plátano editora) se indica esta espécie (com a designação em português de “Vascelo dos prados” ) como tendo por habitat terras com erva, pastagens e dunas ervosas. Neste livro é referida outra espécie, Lycoperdon perlatum (Bexiga-do-lobo, em português) cuja gleba se torna verde-azeitona na maturidade, mas cujo carpóforo é castanho-amarelado.
Parece pois tratar-se de uma espécie do género Lycoperdon, mas não sei exactamente qual.

Isto é um 'ovo' de Phallus impudicus ou Phallus hadrianii...

E esta, hem?
Já vi que tenho de modificar a adivinha ... e
Já agora, só me falta vê-lo crescer ...
Obrigado, Pedro, por mais este esclarecimento.
Lebre

Não posso deixar de dar os parabéns ao Lebre por este tópico! Muito original!

Veja-o crescer de nariz tapado!

A 1ª vez que tropecei com eles, andei enjoada por uns dias e o cheiro não me saía das narinas

Os meus agradecimentos ao Nuno, pelas palavras agradáveis, e à Hermínia, pelo alerta para o cheiro desta peste.
Agora que já sei do que se trata, gostaria de tentar vê-lo crescer. Ainda hoje passei pelo local e descobri mais dois "ovos", para além daquele (não colhido) que mencionei na mensagem inicial. Ainda não houve qualquer eclusão. Será que há algum sintoma de que tal está prestes a acontecer? Por outras palavras, alguém sabe qual é o tempo de maturação?
Lebre

Lebre escreveu:Ainda não houve qualquer eclusão. Será que há algum sintoma de que tal está prestes a acontecer? Por outras palavras, alguém sabe qual é o tempo de maturação?
Lebre

Olá amigo!

Em poucos dias eles eclodem... Tem o cuidado de levar uma máscara

Depois de vigiar o desenvolvimento dos "ovos" para a possibilidade de uma eclosão, eis que os primeiros sinais ocorreram há dois dias:



Por ter de me ausentar de Lisboa, pensei que não me seria possível acompanhar a eclosão dos "ovos". Hoje, ao regressar a casa, voltei ao local e deparei com isto



Como tinha visto referir algures que o desenvolvimento completo seria muito rápido, numa questão de horas, com a formação de um pé com comprimento de 10 a 20 cm, voltei ao local antes do pôr-do-sol. No entanto, o processo não evoluiu muito mais. Deixo esse registo.



Quanto ao mau cheiro, para que tinha sido alertado, não senti nada, provavelmente devido às actuais condições climatéricas.
Lebre

Bom registo, Lebre! Se puderes, vai acompanhando o desenvolvimento e colocando aqui as fotos.

Quanto ao odor, provavelmente os esporos ainda não estão maduros e, por isso, não exalam o cheiro característico para atrair as moscas. Pelo menos na fase de ovo não existe cheiro, independentemente das condições climatéricas, como já pude comprovar diversas vezes tanto em Phallus impudicus como em Clathrus ruber.

Lebre escreveu:
Quanto ao mau cheiro, para que tinha sido alertado, não senti nada, provavelmente devido às actuais condições climatéricas.
Lebre

Excelentes fotos. E nunca tinha visto o interior de um ovo. Também não notei nenhum mau cheiro.
https://cogumelosportugal.forumeiros.com/campo-e-identificacao-f5/cogumelo-ou-planta-t396.htm

Caro efe,
trata-se efectivamente de uma oportunidade rara poder acompanhar o evoluir das várias fases que levam ao "nascimento" de um cogumelo da espécie em causa. Hoje já tirei novas fotografias, que mais tarde hei-de colocar no tópico.
Saudações,
Lebre

Venho actualizar o material fotográfico com as observações de hoje ao eclodir de um Phallus impudicus. Anexo quatro conjuntos de fotografias:
Grupo I - com duas fotografias colhidas a meio da manhã;
Grupo II - com duas fotografias colhidas ao final da tarde;
Grupo III - com duas fotografias de outro exemplar, já na fase em que a gleba foi praticamente toda retirada pelos insectos, havendo um declínio do exemplar que se encontra praticamente deitado sobre o solo;
Grupo IV - com uma fotografia de um "ovo" antes da eclosão, mas maduro pois as dimensões são consideráveis e a cor é agora creme a castanho claro, enquanto que anteriormente era branco, e duas fotografias de outro exemplar, uma retirada de manhã e a outra à tarde, em a eclosão está no início, sendo a gleba visível à transparência na primeira e a olho nu na segunda.

Hoje de manhã já havia um ligeiro "perfume" (= cheiro enjoativo) no ar, que se tornou mais intenso à tarde. Foi, aliás, pela movimentação dos insectos, que eram em grande número à tarde, que eu dei conta do exemplar a que correspondem as fotografias do Grupo III.
Espero que gostem,
Lebre

Grupo I:



Grupo II:



Grupo III:



Grupo IV:

Eu não disse para tapar o nariz???

Tive um encontro com uma série deles e fiquei enjoada por muito tempo!!

Hermínia

Cara Hermínia,
Felizmente havia algum vento o que ajudou a suportar melhor o incómodo.
Obrigado pelo aviso,
Lebre

Parabéns Lebre!!

Boa monitorização!!

Obrigado, Zamanita, pelas palavras de incentivo.
Continuando a “reportagem” relativa ao desenvolvimento do Phallus impudicus, venho adicionar novo material fotográfico. Assim, podem encontrar em anexo fotografias colhidas hoje ao meio-dia, distribuídas como se segue:
Grupo V: do exemplar cujo desenvolvimento tenho vindo a acompanhar passo a passo;
Grupo VI: do exemplar em “fase terminal”, cuja gleba já desapareceu completamente e que se encontra “completamente de rastos”;
Grupo VII: o que ontem era um ovo em fase inicial de eclosão, hoje já “saiu da casca”. A vida continua … . Faz-me lembrar a máxima: “Convém extermina-los à nascença, senão crescem e tornam-se perigosos”.
Lebre

Grupo V:




Grupo VI:


Grupo VII:

Olá Lebre

Belas fotos!

Hoje também encontrei bastantes e alguns ainda em ovo mas já começavam a eclodir só que já havia muitos por perto e o cheiro era de fugir.

Vou vendo a evolução dos "seus"

Hermínia

Obrigado, Hermínia.
Penso que agora pouco há a acrescentar, excepto o "Enterro do bacalhau"".
Saudações,
Lebre

Parabéns pela sucessão "impúdica" de imagens. Espectacular!

Obrigado, Loco Gato, pelo comentário.
Tratou-se de uma oportunidade única (?), que eu tentei agarrar. Para mim todos estes momentos têm sido muito invulgares e recompensadores. Desconhecia em absoluto a existência de ciclos de vida, por um lado, muito curtos e, por outro, tão eficientes na forma como a disseminação das "sementes" é processada.
Saudações,
Lebre

Em anexo segue a actualização do registo fotográfico relativo ao eclodir de um Phallus impudicus. Relativamente a ontem apenas não se registaram alterações no grupo XII.
Lebre

Actualização do Grupo VIII – exemplar cuja evolução tenho seguido passo a passo (fotos anteriores: Grupos I, II e V): de rastos e com a gleba praticamente dizimada


Actualização do Grupo IX - exemplar decrépito (fotos anteriores: Grupos III e VI ): o tecido do falo está flácido e parece começar a decompor-se


Actualização do Grupo X - exemplar que ainda há três dias era um ovo (fotos anteriores: Grupos IV-2ª e 3ª fotos e VII ): metade da gleba já "marchou", ainda assim está vigoroso


Grupo XI – novo exemplar descoberto ontem: já prostrado, mas com a gleba intacta

Em anexo segue última actualização do registo fotográfico relativo ao eclodir de um Phallus impudicus. Penso que o processo já ficou bem ilustrado, pelo que não farei novas observações.
Lebre

2ª Actualização do Grupo VIII – exemplar cuja evolução tenho seguido passo a passo (fotos anteriores: Grupos I, II e V): só ficou com uns resquícios de gleba


2ª Actualização do Grupo IX - exemplar decrépito (fotos anteriores: Grupos III e VI ): em decomposição


2ª Actualização do Grupo X - exemplar que há cinco dias era um ovo (fotos anteriores: Grupos IV-2ª e 3ª fotos e VII ): a gleba foi totalmente "consumida"


2ª Actualização do Grupo XI – exemplar descoberto à três dias: com a gleba ainda intacta, mas no chão


1ª Actualização do Grupo XII: Finalmente rompeu a casca

Depois da maratona das observações, venho anexar um quadro com uma montagem que pretende ilustrar os aspectos mais relevantes acerca da eclosão e desenvolvimento de um exemplar de Phallus impudicus.
Lebre

Isso é que foi vê-lo crescer!
Mais uma vez, bom trabalho e obrigado Lebre!

Olá Lebre, buen trabajo.
He mirado bibliografía y tus ejemplares pueden ser Phallus impudicus var. obliteratus (= Phallus impudicus f. subindusiatus), debido a la presencia de un indusio rudimentario.
Un saludo.