Um caso em estudo!: Tapinella/Paxillus panuoides

Saudações,
Lebre

Fotografias e outros dados:



Encontrei-o no chão numa clareira de uma mata em Monsanto dominada por abetos;


O chapéu era muito claro e estava revestido por uma espécie de penugem (tomentoso) tinha a forma de sela e algumas partes pareciam soldadas;



A primeira fotografias dava a ideia de o himenóforo ser constituído por lâminas, mas numa observação mais detalhada vislumbravam-se pregas;


A fixação ao solo era feita por meio de um pé rígido, que ligava directamente ao chapéu;


A microscopia (preparação com Congo vermelho) forneceu os seguintes dados para os esporos:
5.2 [5.7 ; 6] 6.4 x 4 [4.5 ; 4.8] 5.3 µm
Q = 1.1 [1.2 ; 1.3] 1.4 ; N = 20 ; C = 95%
Me = 5.8 x 4.6 µm ; Qe = 1.3;


E uma imagem dos tecidos das pregas.

Parece-me um exemplar pertencente ao género Gomphus. Não sei quantas espécies ocorrem na Europa, mas apenas conheço Gomphus clavatus e a descrição não encaixa com as fotografias. Talvez se trate de outra espécie mais obscura ou talvez, até, não pertença a este género - o género Hohenbuehelia, por exemplo, tem espécies com algumas semelhanças, mas as pregas não são consistentes com as descrições das espécies desse género...

Poderá ser um Tapinella/Paxillus panuoides!?
Pedro ou quem lá esteve, lembram-se de o ano passado eu levar uma espécie de Sesimbra para Grândola para identificação, acho que é a mesma!!
E também a visualizei na minha ultima saída, o habitat era num toco de pinheiro entre a casca e a madeira, como estivesse a separa-los. Vejam aqui.

Lebre,

Esqueci-me de dizer que se tiveres o exemplar em tua posse, podes tentar como dedo ver se as pregas/laminas se separam facilmente do píleo, que é uma das principais características que identificam a espécie que proponho.

Caros, Pedro e ZT, obrigado pelas vossas prontas respostas.
Parece haver bases para que o exemplar seja identificado. Relativamente ao género Gomphus está fora de causa, pela dimensão dos esporos. No género Hohenbuehelia os valores das medidas são mais aproximadas, mas pode haver outras espécies que ainda não vi. No entanto, quando eu estava a ver estas características surgiu a mensagem do ZT, com uma proposta promissora. De facto, as características dos exemplares nas fotografias são muito semelhantes nas cores e nas lâminas/pregas, com aqueles efeitos sinuosos. Já estive a ver as dimensões dos esporos da espécie Tapinella/Paxillus panuoides no mushroom expert - que indica 4-6 x 3-4 µm - e, embora no comprimento a medida esteja dentro dos valores, na largura os do meu exemplar dão valores superiores ao máximo aí referido. Neste aspecto convém comparar os valores com os de outros site, o que farei brevemente.
Quanto ao teste recomendado pelo ZT não é possível fazê-lo porque o exemplar já tem mais de três semanas, mas tenho excicatum.
Entretanto parece-me ter percebido melhor a anatomia do exemplar. A chave parece-me estar naquele aspecto que referi de haver zonas onde parecia que o chapéu estava soldado. Sendo assim, o exemplar não pode abrir para adquirir a forma habitual ficando com aquele aspecto de sela.
Lebre

Lebre

Pergunto, uma vez que inúmeras espécies em Portugal excedem as medidas dos livros!! Será que pode acontecer o mesmo com os esporos??

Há sempre a hipótese do teu exemplar estar deformado, ou seja, diferente da sua forma habitual, como acontece com muitas outras espécies. Ex:Aqui


ZecTarius

Neste momento já não tenho dúvidas de que o ZT acertou no alvo ao propor para este exemplar a classificação de Tapinella/Paxillus panuoides.
Efectivamente, dei os seguintes passos:

(1) Comecei por ver a descrição desta espécie no meu guia de campo (Frade&Alfonso) e desde logo reconheci o tal fenómeno das lâminas, Cito uma parte do texto:
"Sombrero en forma de concha o espátula, en ejemplares adultos puede llegar a ser embudado, margen enrollado, lobulado y ondulado. Cutícula finamente tomentoso-pubescente, después casi lisa, amarillo-oliva a pardo anaranjada. Láminas decurrentes, bifurcadas, unidas transversalmente por venas, de collor amarillo intenso o amarillo-oliva, facilmente separables del sombrero. Pie muy corto o casi nulo, lateral, de color blanco-amarillo o amarillo pardo."
Assim, o que eu vi são as tais "venas" (veias) que atravessam transversalmente as lâminas, das quais só junto à margem se reconheciam como tal. Outro passo dessa descrição refere existência de um pé rudimentar que pode ter inserção lateral. Essa é a explicação para o outro fenómeno que eu descrevi como sendo o pé a ligar directamente ao chapéu. Como a inserção é lateral e o chapéu não abriu em virtude das já mencionadas "soldaduras", parecia que o pé ligava directamente ao chapéu.
(2) Faltava ainda esclarecer as medidas dos esporos. Aqui num primeiro passo consultei o site Rogers mushrooms em que as medidas dos esporos fornecidas - 4–5.5 x 3–4 um - são ainda mais restrictivas que as dadas em mushroom expert. Procurei outros sites com informação e acabei por encontrar em mycoquebec medidas que já se aproximam mais das do meu exemplar - 4-6,5 x 3-4,5 µm (a diferença já é negligenciável e basta uma ligeira alteração da calibração para a explicar).
(3) De referir ainda que por consulta do Index fungorum verifiquei existirem várias formas e variedades de Tapinella panuoides e de Paxillus panuoides, pelo que não sei ao certo a que formas ou variedades dizem respeito as medidas acima mencionadas.

Por estas razões penso que a espécie está identificada.
Agradeço a todos os contributos que o permitiram e, em particular, ao ZT pela pontaria (para ele era um déjà vu).
Lebre

Lebre

É verdade, era mesmo um déjà vu! O mais curioso é que nem me lembrava do nome, mas pela história peculiar que tive com esta espécie, soube imediatamente para onde me direcionar.


Abraço
ZecTarius

Bom tiro zt!!

Depois da criação deste tópico já tive ocasião de observar a “forma normal” desta espécie por duas vezes. Anexo imagens de uma dessas observações.
Lebre

Fotografias: