Cogumelos de Fevereiro - Parte 2

Mais um conjunto de espécies que ocorrem no Pinhal do Rei, desta vez registadas numa saída no dia 7 de Fevereiro.

Depois de vários anos sem observar esta espécie (bastante frequente e abundante há 6/7 anos atrás), eis que volta a ocorrer em quantidades importantes em zonas específicas do Pinhal do Rei.



Esta espécie de porte médio a grande pertence ao sub-género Myxacium (caracterizado pelo chapéu e pé víscidos) e caracteriza-se pelo chapéu castanho-avermelhado com um zona central mais escura, pelo pé branco (algumas espécies semelhantes apresentam colorações violeta) e pela ocorrência em pinhais - provavelmente micorrízica.

Uma outra espécie que pude observar pareceu-me, à primeira vista, Cortinarius semisanguineus - que já tinha ilustrado noutro tópico aqui no fórum: Pinhal do Rei - 5 espécies.



O porte, cor geral, silhueta, parecem apontar para que se trate da mesma espécie. No entanto, a recolha de alguns exemplares jovens semelhantes que cresciam nas imediações rapidamente me fizeram reformular a impressão inicial. Alguns exemplares apresentavam as lâminas com uma cor avermelhada, confirmando tratar-se de C. semisanguineus, mas outros apresentavam-nas de cor amarela, tratando-se, portanto, de outra espécie, que mais tarde confirmei poder tratar-se de Cortinarius croceus.



Podem, portanto, tirar-se algumas ilacções desta situação:

1 - É necessário olhar para as diferentes características de cada espécie de forma crítica;
2 - Duas espécies bastante semelhantes podem crescer no mesmo local e levar a concluir - erradamente - que se trata apenas de uma;
3 - A ilustração de todas as características macromorfológicas de uma espécie - ou a sua descrição - são absolutamente essenciais para uma correcta identificação. A existência apenas de uma fotografia como a primeira que aqui coloquei poderia, facilmente, levar a uma identificação errada!

Para finalizar, uma fotografia 'de família'...

Esta espécie crescia a partir de um toco de pinheiro algo decomposto.



A maior parte dos exemplares estavam já bastante degradados, mas o conjunto mais à direita da foto apresentava-se ainda em bom estado.



In situ não consegui chegar a nenhuma conclusão em relação à identificação desta espécie, mas apontava para a possibilidade de se tratar de uma espécie de Gymnopilus, atendendo ao substrato em que crescia e à coloração amarela das lâminas. Em casa, depois de pesquisar sem sucesso a maior parte da bibliografia, eis que encontro no tomo V de "Fungi of Switzerland" uma fotografia e uma descrição que encaixam perfeitamente na espécie que encontrei: cor castanho-avermelhada, margem enrolada durante muito tempo, lâminas amarelas contrastando fortemente com a cor do chapéu e do pé e crescimento cespitoso ('em tufos', com as bases dos pés unidas) em madeira de Pinus sp. semi-decomposta.



No entanto, toda a informação que encontrei sobre esta espécie noutras fontes (monografia Gymnopilus de Marcel Bon e algumas fotografias e descrições na internet) NÃO encaixam completamente nos exemplares que recolhi. A maior parte das informações reporta-se a uma espécie mais pequena e elegante, nalguns casos com cores mais claras e sem referência à margem enrolada. Em algumas fontes, esta espécie era sinonimizada com G. bellulus, que, no entanto, na obra que me serviu de base para a identificação, é considerada uma espécie diferente (e com evidentes diferenças macroscópicas). Ainda assim, para colocar a 'etiqueta', ficará como Gymnopilus cf. picreus ou então como Gymnopilus picreus sensu Kränzlin.

Para terminar, uma espécie bem conhecida e frequente, mas aqui representada por um esporóforo deveras invulgar: em vez de um único corpo mais ou menos em forma de clava, pode observar-se um emaranhado deles a crescer a partir de uma única larva.

Belas fotos Pedro.
Muito reveladora a foto das lâminas das duas espécies de Cortinarius.

E Cordyceps militaris cespitosas também nunca tinha visto...

Inté

Obrigado, Zé!

Realmente é necessário estar atento a todos os pormenores para se identificar o melhor possível as espécies que encontramos.

Quanto ao Cordyceps, apesar de já ter visto muitos espécimes na minha vida, foi a primeira vez que me deparei com tal 'excentricidade'.

Que excelentes fotos, Pedro!

É importante referir que aqui pelo Norte vêm-se muito poucas espécies; Amanita gemmata e pouco mais...

Parabéns!

Nuno